Embalando o futuro
O mercado de embalagens tem crescido continuamente. Este crescimento é exige que as empresas presentes no setor ofereçam opções inovadoras e que superem as expectativas de consumidores. Nilton Saraiva, Presidente da Ibema, comenta sobre o momento da empresa, as novidades trazidas e as metas sócias e ecológicas da empresa.
1. Como foi sua trajetória até a presidência da Ibema?
Nilton Saraiva – Tenho uma trajetória de quase 30 anos no mercado de embalagens. Comecei na Impressora Paranaense, que foi adquirida pela Dixie Toga e, na sequência, tornou-se Bemis, onde passei por várias áreas: produção, P&D, logística e vendas. Também fui responsável por operações no Chile e Argentina, sendo que, nos meus dois últimos anos de Bemis, fui Country Manager no México. Essa experiência me permitiu conhecer outros segmentos, desde embalagens cartonadas até flexíveis, passando por termoformadas e tubos laminados. Em 2017, recebi o convite para assumir a presidência da Ibema, que eu já conhecia há muito tempo, como cliente, e, nesses quatros anos, tem sido possível engajar o time em muitas transformações.
2. Em que patamar a empresa se encontra hoje?
Nilton Saraiva – Hoje a Ibema é a terceira maior fabricante de papelcartão do Brasil e quarta na América Latina, com uma capacidade instalada de 160 mil toneladas por ano entre as plantas de Turvo-PR e Embu das Artes-SP. Nos últimos anos, criamos as condições necessárias para abrir um novo ciclo de investimentos e temos diversos projetos em andamento, em várias frentes. No ano passado, fizemos um estudo que reposicionou nosso propósito como empresa de embalagens, o que amplia nosso mercado e abre uma avenida de oportunidades.
3. Como a pandemia afetou o trabalho da IBEMA?
Nilton Saraiva – Desde o início, nossa principal preocupação foi garantir a segurança e a saúde de nossos colaboradores. Outro foco foi o abastecimento de nossa cadeia, especialmente para os setores de produtos essenciais, como alimentos e farmacêutico. Rapidamente, nos adaptamos à realidade do trabalho remoto e criamos todas as condições de segurança para que nosso time de fábrica pudesse exercer esse papel tão importante que nos coube: garantir que nossos produtos pudessem chegar aos nossos clientes e se transformassem nas embalagens de produtos essenciais. Tudo isso foi possível por meio da criação de um comitê de crise, com reuniões diárias para a tomada de decisões pontuais. Nesse fórum, frequentemente fazíamos rodadas de atualização da previsão de demanda e consequentemente a adaptação da nossa programação de produção e compra de insumos. Esse mesmo comitê cuidou das políticas de segurança e saúde, criando ações como a instalação de um túnel de desinfecção, tendas para refeição na área externa da fábrica e distribuição de refeições solidárias aos caminhoneiros parceiros, entre outras. Também fizemos diversas doações, entre elas para o hospital Bom Pastor, da região de Turvo, e, em conjunto com a BO Packaging, distribuímos um milhão de copos de papel aos hospitais do país com mensagens de apoio às equipes de saúde da linha de frente do combate contra o coronavírus. O comitê segue ativo, monitorando as taxas de infecção, o índice de vacinação dos nossos colaboradores e garantindo o cumprimento das políticas de segurança e saúde.
4. Em artigo publicado no ano passado, o senhor informou que a Ibema tem 25% de suas vendas destinadas ao mercado internacional e foco em crescimento nessa área. As exportações sempre foram importantes para empresa?
Nilton Saraiva – As exportações são parte fundamental do nosso negócio. Temos uma relação histórica com a Argentina, por exemplo, para onde vendemos nossos produtos há mais de 30 anos e somos um dos maiores fornecedores de papelcartão. É por esse laço comercial sólido que tomamos a decisão de abrir nosso primeiro escritório comercial em Buenos Aires, inaugurado em 2021. Além disso, temos posição consolidada em grandes mercados como Reino Unido, Paraguai e Portugal, além de vendermos para mais de 25 países em quase todos os continentes. Com plena consciência da nossa responsabilidade para com o abastecimento do mercado brasileiro, temos grandes oportunidades no mundo todo.
5.Um dos entraves para o crescimento das empresas é a matéria-prima. Qual a situação da empresa neste ponto? A Ibema é autossustentável?
Nilton Saraiva – Hoje compramos celulose, pastas mecânicas e aparas para a produção de nossos produtos. Passamos por alguns momentos difíceis no final do ano passado e início deste ano com o suprimento de aparas, situação que parece ter se normalizado nos últimos meses. Além da dificuldade de abastecimento, nossas matérias-primas subiram muito de preço, não só pela demanda, mas também pelo impacto do câmbio. Por outro lado, nos últimos dois anos, aumentamos nossa capacidade de produção de pastas mecânicas em mais de 50%, reduzindo nossa dependência de terceiros. Nesse sentido, estamos nos tornando cada vez mais autossustentáveis.
6. Quantos empregos diretos e indiretos a empresa gera hoje?
Nilton Saraiva – São cerca de 700 funcionários hoje na Ibema, distribuídos entre nossas quatro unidades – a sede administrativa localizada em Curitiba, o centro de distribuição direta em Araucária e as fábricas instaladas nos municípios de Turvo, no Paraná, e em Embu das Artes, em São Paulo. Além disso, temos aproximadamente 150 terceiros que nos apoiam em diversas atividades.
7. A Ibema trabalha ou pretende trabalhar em outros mercados do setor madeireiro, como por exemplo, serraria, aproveitamento de biomassa de madeira, mudas ou pesquisa e desenvolvimento?
Nilton Saraiva – Sim, percebemos várias oportunidades no setor madeireiro, não só com o uso da biomassa, mas também em outros tipos de embalagens com grande potencial de substituição ao plástico. Para isso, estruturamos um time de Pesquisa, Desenvolvimento e Novos Negócios que, constantemente, analisa novas oportunidades de mercado.
8. Quais as novidades trazidas pela Ibema para o mercado de embalagens?
Nilton Saraiva – Estamos profundamente comprometidos com a Economia Circular, e prova disso é nosso produto Ibema Ritagli, que tem 50% de material reciclado, sendo 30% fibras de pós-consumo. Esse cartão cobre todas as dimensões do ESG (ambiental, social e governança) e ajuda as indústrias de bens de consumo a cumprirem com suas políticas e metas de sustentabilidade. Hoje, o desafio do pilar ambiental é tornar as práticas sustentáveis economicamente viáveis. O Ritagli foi criado pensando nisso, com equilíbrio entre sustentabilidade e eficiência. Estamos conseguindo dar tração a esse produto construindo parcerias de circularidade com grandes marcas e participando de projetos de coleta de embalagens utilizadas, como é o caso dos copos de papel. O Naturale é outra novidade que será lançada em outubro. Com base de 100% de fibra virgem e sem agentes de branqueamento, ele contém menos químicos que qualquer outro cartão do mercado. O alto nível de rigidez, superior aos tops de linha como o Supera e Supera White, é mais uma fortaleza. Quanto mais rígido o cartão, menos resíduos são gerados. Vamos entregar uma nova categoria de produto ao segmento, um cartão de altíssima performance, com coloração natural, menos químico e sem coating. É a natureza traduzida em papel. Além disso, nossa estrutura de P&D e Marketing segue os passos do funil da inovação, e integramos a Rede de Inovação ABTCP, que busca diretrizes voltadas para a pesquisa de novos produtos destinados a embalagens de papel, que servem para identificar oportunidades e propor inovações e iniciativas na busca de viabilidade dos projetos.
9. Você poderia explicar os planos em torno do lema “pensar além da caixa”?
Nilton Saraiva – A Ibema sempre esteve na vanguarda do desenvolvimento de novos produtos de cartão, como foi o caso do copo de papel na América Latina. Pensar além da caixa é desafiar o status quo, é vislumbrar soluções inovadoras e que tragam um real benefício aos nossos stakeholders, especialmente à sociedade por meio de um consumo sustentável e consciente. Esse valor é amplamente difundido internamente, assim como “acreditar no papel da coragem” e “fazer com tato”, que juntos sustentam nosso propósito de “Embalar o Futuro”.
10. As pautas de ESG se tornaram predominantes recentemente. Quais são as novas metas da empresa neste sentido?
Nilton Saraiva – Criamos uma força-tarefa para produzir nosso primeiro relatório sustentável aos moldes GRI (Global Reporting Initiative), que culminará em um documento robusto, com informações sobre a atuação da empresa nos quesitos socioambientais, econômicos e de governança, capaz de direcionar a busca por oportunidades e novos compromissos. Para garantir a representatividade e engajamento de toda a empresa, criamos um comitê com diretores e lideranças de diversas áreas. Queremos ser referência, demonstrar perenidade e compromisso nos três pilares ESG, tanto para os brand owners quanto para toda a sociedade e o mercado em que atuamos. É preciso dizer que, na área ambiental, sempre fomos vanguarda. Destaco a redução no uso da água – que é muito baixo na Ibema: nos últimos três anos, conseguimos manter os índices de consumo abaixo do padrão, com redução de 25% no uso de água no processo produtivo e geração de efluentes na planta de Embu das Artes-SP. Ali, o circuito fechado tem aproveitamento elevado e um dos menores indicadores de consumo de água encontrados na produção de papelcartão. Em Turvo, no interior do Paraná, a Ibema também adotou ações que reduziram o consumo de água e geração de efluentes em 15% nos últimos três anos.
Além desses bons resultados de eficiência, soma-se a matriz de energia renovável mais estruturada do que a de outros países, com ênfase na geração por hidroelétricas – e o Brasil precisa investir cada vez mais nisso. Na planta da Ibema em Turvo-PR, temos o uso da biomassa de cavacos de resíduos de madeira na região, favorecendo um ciclo virtuoso do aproveitamento florestal. Entre as conquistas ambientais, é importante salientar exemplos como nossa conquista da marca 100% Aterro Zero, o que é um feito notável. Destaco ainda a conquista pela Ibema do selo ISO 14.000 em 2014, o que traz uma série de garantias ambientais referentes à eficiência e otimização dos recursos da empresa.
11. O que a Ibema pretende com esse ideal de “Embalar o futuro”?
Nilton Saraiva – Ao mesmo tempo em que apresentamos ao mercado uma nova logomarca, no fim de 2020, confirmamos nossos propósitos e valores, que resumem a essência da companhia: embalar experiências do consumidor com o olhar voltado para o futuro. A mudança, que trouxe um novo posicionamento de mercado, englobou uma nova identidade visual e um site repaginado, e trouxe uma dinâmica inovadora focada na transformação digital. Nossos investimentos nos últimos três anos, incluindo a previsão para 2021, são da ordem de R$ 60 milhões. Estamos modernizando o parque fabril na área de acabamento, com o objetivo de melhorar a eficiência industrial e qualidade dos produtos por meio da automação e aquisições de novos equipamentos, com foco na digitalização, e priorizamos melhorias como a adoção do ERP SAP S/4 HANA, de alta tecnologia, além de pesquisa e desenvolvimento de ponta de forma a estar sempre à frente.
12. Quais ações sociais a Ibema realiza?
Nilton Saraiva – Desde 2014, temos um projeto social de artesanato que é referência: o IbemArte, que vem conquistando premiações por meio do auxílio às famílias que moram nas imediações da fábrica de Turvo, no interior do Paraná, contribuindo, assim, para a melhoria do IDH da região central do estado. Em 2017, a iniciativa recebeu o Selo Sesi ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da ONU), por sua importância e impacto entre os participantes.
Além da orientação e apoio aos colaboradores e seus familiares, a Ibema assumiu seu papel de protagonista no setor de papel e liderou campanhas solidárias desde o início da pandemia. Uma coleta de cestas básicas foi encaminhada a comunidades necessitadas por meio da Central Única das Favelas (CUFA), para a cidade de Araucária, e acolhemos os parceiros caminhoneiros com alimentação e kits de higiene em Turvo.
Uma parceria com gráficas para desenvolver e doar milhões de copos de papel levou mensagens de apoio ao corpo clínico de hospitais no combate à covid-19. A Ibema tem colaborado ainda com o Hospital Bom Pastor, na região de Turvo (PR), com a doação periódica de oxigênio, ajuda monetária mensal e EPIs (máscaras FF2, pijamas cirúrgicos, macacões impermeáveis, viseiras, aventais e toucas descartáveis, álcool 70 e luvas cirúrgicas), além de termômetros a laser, oxímetros de pulso e medicamentos de tratamento da covid-19. Em Curitiba, um ventilador pulmonar foi doado ao Hospital de Clínicas.
Entrevista da REFERÊNCIA CELULOSE & PAPEL, edição 53.