Confira a entrevista da REFERÊNCIA CELULOSE & PAPEL edição 51, no nosso “#tbt”
Os passos de um gigante
Sérgio Cotrim Ribas
Formação: Administrador pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui MBA pela Boston University – Questrom School of Management, MBA Executivo pela Universidade de São Paulo e pós-graduação em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas (EBAP/FGV).
Cargo: Diretor-presidente da Irani Papel e Embalagem
A indústria da celulose é uma dos mais importantes para o mercado florestal brasileiro e a história da Irani Papel e Embalagem foi construída praticamente junta a da própria atividade. Hoje a empresa conta com mais de dois mil funcionários e se mantém como uma das maiores produtoras de papel e celulose do país. Em razão da celebração dos 80 anos da empresa, convidamos Sérgio Cotrim Ribas, diretor-presidente da Irani, para comentar sobre a história da empresa, seu momento atual, a importância de trabalho de sustentabilidade realizado e as projeções em relação ao mercado e os planos para as próximas oito décadas.
Celulose: Você entrou como diretor de Marketing da Irani em 2004. Como foi sua trajetória até a presidência?
Sérgio: Permaneci como diretor de Marketing e Vendas da Irani por 6 anos, de 2004 a 2010, quando passei a ser diretor dos negócios Papel e Embalagem e, após, diretor de operações. Em julho de 2017, fui nomeado diretor-presidente da Irani Papel e Embalagem. Dois anos mais tarde, passei a atuar também como diretor-presidente do Grupo Habitasul, controlador acionário da Irani.
Celulose: Como foi surgimento da empresa?
Sérgio: A Irani Papel e Embalagem S.A. foi fundada em 6 de junho de 1941 na localidade de Campina da Anta, que mais tarde passou a ser chamada Campina da Alegria, e pertencente hoje ao município de Vargem Bonita, no meio-oeste catarinense.
O local onde a empresa se instalou foi identificado durante uma expedição comandada por Alfredo Fedrizzi, fundador da Irani. Ele percorreu os Estados do Paraná e Santa Catarina em busca de terras com abundância para construir uma fábrica de papel e elegeu Campina da Alegria como o local adequado à produção de papel. A fundação da Irani aconteceu em um período em que a indústria de papel e celulose ganhava impulso no país por conta da Segunda Guerra Mundial, que afetou a importação dos produtos vindos da Europa através do Oceano Atlântico.
O governo brasileiro passou, então, a estimular a criação de empresas papeleiras em território nacional, tanto que a maior parte das indústrias do setor surgiu nesta época. Ao longo dos seus 80 anos de atuação, completados em junho deste ano, a Irani continuou investindo em sua operação no país sempre com responsabilidade e sustentabilidade, bem como no desenvolvimento, capacitação e bem-estar dos nossos colaboradores e comunidades localizadas do entorno das nossas fábricas.
Celulose: Qual o patamar que a empresa se encontra hoje?
Sérgio: A Irani sempre acompanhou a evolução do mercado, expandindo seu negócio ao longo dos anos e se consolidando com uma das principais indústrias de papeis e embalagens do Brasil. A partir de 1994, a companhia passou a ser controlada pelo Grupo Habitasul, permitindo a evolução da governança corporativa, profissionalização da gestão e a restruturação financeira da Irani, além de gerar um novo ciclo de desenvolvimento e a incorporação de novas unidades produtivas.
Atualmente, a Irani está em quatro estados brasileiros com cinco unidades produtivas: duas em Vargem Bonita, Santa Catarina, uma em Santa Luzia, Minas Gerais, uma em Indaiatuba, São Paulo, e uma em Balneário Pinhal, no Rio Grande do Sul, além de florestas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e escritórios em Porto Alegre e em Joaçaba. Com uma produção integrada, florestas próprias, energia autogerada e máquinas e equipamentos constantemente atualizados, a Irani produz papéis para embalagens, chapas e caixas de papelão ondulado, resinas de pinus – breu e terebintina -, assegurando o fornecimento de produtos de matéria-prima renovável com alta qualidade e competitividade.
Paralelamente ao aperfeiçoamento da governança e da reestruturação financeira, a Irani realizou, em julho de 2020, uma bem-sucedida oferta pública de ações (um re-IPO). A empresa se constituía como de capital aberto desde 1977, mas a operação efetuada ano passado possibilitou a implementação de um portfólio de expansão, intitulado Plataforma Gaia. Além disso, a Irani deu início à migração para o Novo Mercado da B3, concluída em dezembro passado, tornando-se a primeira indústria de papel e embalagem a integrar o seleto grupo de organizações empresariais que apresentam o mais elevado nível de governança corporativa da bolsa brasileira.
Importante ressaltar que a estratégia de negócios que adotamos nos últimos nos conferiu ainda a solidez necessária para alcançarmos resultados expressivos, sobretudo em 2020 e neste ano, nos posicionarmos, mais uma vez, como um importante player do setor. Em 2019, por exemplo, reestruturamos a dívida da empresa, liquidando as operações em dólar e, em 2020, concretizamos nosso re-IPO. Essas medidas foram fundamentais para colocar a companhia em uma rota de crescimento, com estrutura de capital adequada, acessando o mercado de capitais de ações e de dívida com elevado nível de governança.
Celulose: A Irani se destaca na produção de papelão ondulado. Existem outros setores de atuação que envolvem a madeira?
Sérgio: A Irani possui outras áreas de negócios que envolvem madeira. Com quase 40 mil hectares de terras, sendo 72% no meio-oeste catarinense e 28% no litoral médio e norte do Rio Grande do Sul, nossas Unidades Florestais têm como principal objetivo suprir a demanda de madeira para a produção de celulose e energia nas fábricas de papel e embalagem de Santa Catarina, e a demanda de resina para a produção de breu e terebintina no Rio Grande do Sul.
Com manejo certificado desde 2008 e licenças ambientais expedidas pelos órgãos competentes, temos a garantia de que as operações são adequadas, preservando a biodiversidade e respeitando os trabalhadores e as comunidades no entorno.
A Irani também comercializa madeira para abastecer diversos segmentos de mercado nas regiões onde mantém florestas. Em Santa Catarina, comercializamos principalmente toras de pinus para os segmentos de serraria e compensados, enquanto no Rio Grande do Sul comercializamos toretes e toras para os segmentos de serraria e painéis.
Outra maneira de fomentar o reflorestamento na região é por meio da aquisição de parte do suprimento de madeira para a produção de celulose e energia (biomassa) no mercado regional.
Celulose: Um dos entraves para o crescimento das empresas é a matéria-prima. Qual a situação da empresa neste ponto? Há espaço para crescimento?
Sérgio: A pandemia trouxe diversos desafios em ralação às aparas, matéria-prima de nossos papeis reciclados, e também de alguns outros insumos. Adotamos diversas estratégias para contornar os percalços e atender os volumes históricos praticados por nossos clientes de maneira satisfatória.
Com os investimentos previstos na Plataforma Gaia, iremos aumentar em 29% nossa produção de celulose e em 23% nossa produção de embalagens de papelão ondulado. Não vemos para este ciclo dificuldades com matérias-primas para este crescimento. Para nosso próximo ciclo, as expansões serão sempre considerando a integração de toda a cadeia (celulose, papel e embalagens).
Celulose: Quais as perspectivas de mercado futuro para os próximos 80 anos?
Sérgio: A Irani vive um momento histórico e de franco crescimento no setor, sobretudo em decorrência da alta demanda pelo e-commerce e pelo delivery de alimentos desde o início da pandemia em 2020. Somente no primeiro trimestre deste ano, chegamos ao lucro líquido de R$ 57 milhões, cerca de 251% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Esses resultados também são frutos da cultura de inovação e do relacionamento que mantemos com o ecossistema de inovação aberta. Além de contar com equipes internas dedicadas à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação e com o apoio de áreas comerciais e assistência técnica, lançamos, há algumas semanas, a 2ª edição do Irani Labs, nosso programa de conexão com startups a fim de buscar soluções inovadoras e tecnológicas para desafios do segmento de papel e embalagem, por meio de produtos, serviços, processos e novos negócios.
Frente ao momento atual e de crescente demanda no setor de papel e embalagem, enxergamos oportunidades de inovação e expansão do nosso negócio para 2021 e os próximos anos e seguimos focados neste objetivo.
Por meio do nosso plano de expansão, chamado Plataforma Gaia, seguiremos também com nossa estratégia de negócios e direcionando os esforços e investimentos na pesquisa e no desenvolvimento de novas aplicações para os papéis, de forma a torná-los cada vez mais resistentes e adaptáveis às diversas situações, proporcionando a substituição de forma eficiente de outros materiais não sustentáveis. Ampliar a capacidade de produção de embalagens de papel para atender a indústria alimentícia, varejo, e-commerce e delivery e garantir a suficiência energética das nossas unidades fabris são outros objetivos e planos da Plataforma Gaia que já planejou investimentos na ordem de R$ 743 milhões. Outros projetos estão sendo planejados para compor a Plataforma Gaia e um novo ciclo de investimentos já começa a ser delineado para os próximos anos.
Celulose: Nota-se que a empresa está investindo em ESG. Quais são as novas metas da empresa neste sentido?
Sérgio: Aproveitamos a comemoração dos nossos 80 anos para reforçar o compromisso com a sustentabilidade e o meio ambiente, lançando a campanha de marketing “Irani 80 anos. (des)envolver o futuro é o que nos move”. Inspirada na natureza e em como manter as operações da companhia alinhadas aos princípios de sustentabilidade e com recursos ativos para as gerações futuras, a campanha veio para potencializar também a grande e histórica atuação da Irani frente aos critérios ESG.
Neste sentido, anunciados neste ano nossos seis novos compromissos ESG para o ciclo de 2021 a 2030. Alinhados ainda aos Objetivos do Desenvolvimento Social (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), as metas visam promover, cada vez mais, a economia circular e sustentável do nosso segmento com responsabilidade social e valorização da diversidade e inclusão junto aos seus colaboradores.
Quatro dos seis novos compromissos ESG visam garantir a sustentabilidade e economia circular da sua operação e cadeia produtiva – premissas que, historicamente, norteiam o nosso trabalho, assim como os critérios ESG. No que diz respeito às metas voltadas a “Mudanças Climáticas” e “Energia”, a Irani se compromete a ser autossuficiente em geração de energia renovável até 2030.
Considerada Carbono Neutro por Natureza, ou seja, que captura mais Gases de Efeito Estufa do que emite, com projetos desde 2007, somos reconhecidos há mais de uma década por operar no mercado mundial de créditos de carbono, pretendemos aumentar em 20% o saldo positivo dessas emissões e remoções dos GEE.
Em relação ao uso de “Água”, até 2030 nos comprometemos a reduzir em 30% o uso do líquido por tonelada produzida. Zerar o envio de “Resíduos” para aterro é outra meta para o ciclo.
Os demais compromissos ESG recém assumidos estão relacionados às pessoas, tendo como foco “Segurança Ocupacional” e “Diversidade”. A Irani busca melhorar a segurança ocupacional e, para isso, tem como meta alcançar zero acidentes de trabalho com afastamento em toda a sua operação.
Frente à valorização e à inclusão da diversidade, até 2030 nos comprometemos também a ampliar para 40% a presença feminina em nosso quadro de colaboradores e a ter 50% de mulheres em cargos de liderança. Para potencializar as discussões internas neste sentido e promover ações constantes em prol da igualdade de gênero, contamos atualmente com um Comitê de Diversidade formado por colaboradores de todas as unidades, além da presença das lideranças da companhia.
A capacitação e o desenvolvimento dos colaboradores é outra prioridade para nós. Somente no ano passado, investimos mais de R$ 1,2 milhão em treinamentos internos que somaram mais de 68 mil horas/aula.
Celulose: A água é umas das principais matérias-primas para a obtenção da celulose. Até 2030 empresa tem um compromisso de diminuir o uso de água em 30%. Como pretende fazer isso na prática?
Sérgio: Reduzir em 30% o uso do líquido por tonelada produzida até 2030 é um compromisso da Irani. Para alcançar esse objetivo, vamos priorizar oportunidades de ganhos de eficiência operacional, bem como a redução do uso de água e alternativas para reuso, além de outras ações.
Celulose: Durante os 80 anos de existência da empresa, houve um importante viés de ações sociais da empresa? Pode citar alguns?
Sérgio: Ao longo dos seus 80 anos, a Irani manteve uma atuação social intensa junto às comunidades localizadas no entorno das suas fábricas. Dentre as iniciativas realizadas pela companhia, estão programas para o desenvolvimento local das cidades e iniciativas com foco em educação, meio ambiente, cidadania e esportes para crianças e jovens. Somente em 2020, foram destinados R$ 340 mil em projetos com esta finalidade, além da doação de mais de R$ 160 mil para projetos locais na área de cidadania e educação socioambiental. Em decorrência da pandemia da Covid-19, no ano passado a Irani destinou mais de R$ 800 mil a instituições parceiras e hospitais da região Sul do país para a compra de respiradores hospitalares e EPIs usados por organizações envolvidas no combate à doença, bem como para projetos nas áreas da cultura, esporte e educação ambiental.
Entrevista da REFERÊNCIA CELULOSE & PAPEL, edição 51.